Marina rejeita uso do termo “casamento” para relações homossexuais

Em entrevista ao “Jornal da Globo”, apresentada na madrugada desta terça-feira (2), a candidata à presidência pelo PSB, Marina Silva, afirmou defender a liberdade de opção sexual, mas se recusou a usar o termo “casamento” para os relacionamentos homossexuais.

Questionada pelo apresentador William Waack se estaria correto afirmar que ela defende o casamento gay, Marina respondeu: “Em termos da palavra casamento está errado, porque o que nós defendemos é a união civil entre pessoas do mesmo sexo. O certo seria Marina Silva é a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo”.

O apresentador insistiu no tema: “Casamento é uma palavra que não sai da sua boca”. Ao que Marina retrucou que “é a forma como nós colocamos no nosso programa”.

Segundo a candidata, a Constituição brasileira utiliza a palavra para pessoas de sexo diferente, sendo que, para pessoas do mesmo sexo, “o que a lei assegura, o que o Supremo já deu ganho de causa com os mesmos direitos, equivalentes ao do casamento, é a união civil”.

O impasse em relação à união entre homossexuais surgiu nos últimos dias após a divulgação do programa de governo do PSB. Em sua primeira versão, publicada na sexta-feira (29), o programa afirmava apoiar a aprovação de projetos e emendas constitucionais que garantissem o casamento civil gay, além da criminalização da homofobia. No entanto, a campanha de Marina liberou nota no sábado retirando os apoios.

Questionada sobre a alteração, a candidata alegou que o trecho sobre a questão LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais) havia sido redigido pelo próprio movimento LGBT e incluído na íntegra por “um erro de processo”.

“O documento que foi encaminhado como contribuição pelo movimento LGBT não foi considerado documento da mediação do debate, foi um documento tal qual eles enviaram”, disse Marina, apontando ainda que a equipe do programa de governo foi quem fez a correção, sem sua interferência.

Na nova versão, o programa não defende mudanças legais e traz apenas a defesa à garantia “de direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo”, que apesar de não estar na constituição, já foi reconhecida pelo Supremo.

Marina foi a primeira presidenciável a participar de entrevistas no “Jornal da Globo”. Segundo a emissora, a pedidos dos candidatos, as entrevistas serão gravadas, e apresentada na íntegra, sem edições. A presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), cancelou sua participação.

Consultas à Bíblia
Marina ainda foi consultada sobre a participação que a religião teria em suas decisões políticas. Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, Marina Silva costuma recorrer a versículos da bíblia para tomar decisões em momentos difíceis.

Sobre o tema, a candidata, que quase se tornou freira católico e converteu-se à fé evangélica na década de 1990, comentou: “Isso é uma forma que as pessoas foram construindo, ou estão construindo, pra tentar passar uma imagem de que eu sou uma pessoa que é fundamentalista”,

Segundo a candidata, o livro serve de inspiração para cristãos ou judeus, mas as decisões são feitas de maneira racional, com participação de um elemento subjetivo. “Dificilmente encontra-se uma pessoa que diga que é 100% racional. Essa pessoa estaria presa à realidade, e teria uma subjetividade muito pobre”

Preço da gasolina
Consultada sobre o preço da gasolina, uma das principais críticas de Marina e do candidato Aécio Neves (PSDB) ao governo federal, que o mantém abaixo do valor do mercado, a candidata evitou responder se vai aumentá-lo caso venha a ser eleita presidente, mas sugeriu que esperava que o atual governo adotasse tal medida.

“Essa política desastrosa do governo, que está subsidiando gasolina, inclusive fazendo a importação desse combustível com um preço elevado, acabou destruindo a indústria do etanol. O que eu espero é que os preços administrados pelo governo possam ser corrigidos pelo próprio governo”, disse.

Questionada se ela queria que o governo desarmasse essa bomba para ela, respondeu: “Não, eu quero é que se tenha uma visão de país e não uma visão apenas das eleições. Essa visão tacanha de se pensar apenas em como vai ganhar o voto do cidadão e deixando a conta para depois, a conta da energia, a conta de todos os preços administrados, que senão a inflação estaria pior, isso não é a melhor governança”. Ela evitou dizer se elevaria os preços caso isso não acontecesse.